De certeza que já ouviram falar de “ratos de biblioteca”. Agora, de “morcegos de biblioteca” tenho algumas dúvidas...
Pois é... Centenas de morcegos vigiam diariamente duas das mais antigas bibliotecas de Portugal, na Universidade de Coimbra e no Palácio de Mafra. É a sua habilidade para capturar insectos que assegura a preservação dos livros.
Os morcegos são o único mamífero capaz de voar e só o fazem de noite, emitindo sons de alta frequência inaudíveis ao Homem e que dificultam a observação e estudo das 26 espécies deste animal que se sabe que existem em Portugal.
Numa noite do ano passado, Jorge Palmeirim, investigador de aves e morcegos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apetrechou-se com equipamento para medição sonora e deslocou-se à biblioteca Joanina de Coimbra para tentar perceber que morcegos continuavam a usar os abrigos daquele espaço, onde estão instalados há mais de 200 anos.
Em todo o país, e além de Coimbra, só se conhece um outro abrigo de morcegos em bibliotecas, no Palácio de Mafra, supondo-se que a preferência da espécie por estes espaços possa estar relacionada com o revestimento antigo de madeira.
Jorge Palmeirim explica que os morcegos são também muito conservadores nos abrigos. Têm tendência para repetir por várias gerações os mesmos locais de abrigo e preferem edifícios antigos.
Em Coimbra existem documentos com cerca de 200 anos que comprovam a compra, nesse tempo, de peles semelhantes às que ainda hoje a biblioteca Joanina utiliza para, diariamente, cobrir mesas antigas de forma a protegê-las dos excrementos dos morcegos.
Por seu lado, o director da biblioteca da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais diz que os morcegos habitam na biblioteca desde que há memória. As mesas da biblioteca são protegidas com peles todas as noites, porque são também antiguidades, e os morcegos circulam livremente, comendo os insectos.
Em Mafra também são os morcegos, e as boas condições climatéricas proporcionadas pelas paredes altas e a madeira do século XVIII, que explicam o óptimo estado de conservação dos livros, segundo a responsável pela biblioteca, Teresa Amaral.
Um morcego pode devorar 500 insectos por dia e, por isso, ninguém questiona que durante a noite se ausentem das bibliotecas para caçar. Estas entradas e saídas são facilitadas pelas fendas e orifícios comuns nas bibliotecas antigas.
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