sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Greve de 24 de Novembro de 2011: Do que não se falou.



Quando há uma greve em Portugal, ouvimos, lemos e vemos constantemente notícias sobre os impactos que as greves têm nos orçamentos das empresas. Os custos que acarretam para o país e o impacto que têm no PIB (produto interno bruto) português.
Mas as coisas não são bem assim.
É impressionante que os meios de comunicação não tenham sequer mencionado uma peça que foi posta à nossa disposição (das rádios, jornais, revistas, televisões e afins) dois dias antes da greve, que explica porque é que estes números não são, realmente, rigorosos.
Para que não existam mal entendidos, coloco-a aqui integralmente. Aí vai...

O título é: 
Greve geral: Impacto no PIB de um dia de greve "não é possível" de calcular - especialista

O texto:
O impacto de um dia de greve geral sobre o Produto Interno Bruto (PIB) "não é possível" de calcular, disse à agência Lusa o especialista Luís Bento.

"Os efeitos das greves gerais são muito diversificados, variam de um setor de atividade para outro. O efeito é completamente diferente para uma empresa que tenha laboração das 07:00 às 18:00 ou numa que tenha laboração contínua", disse Bento, investigador do Centro de Pesquisas e Estudos Sociais da Universidade Lusófona.

Luís Bento é autor de um estudo segundo o qual cada feriado tem um impacto de 37 milhões de euros sobre a economia – mas diz que “não é possível” fazer a transposição deste valor para uma greve geral, como a que foi marcada pelas confederações sindicais para a próxima quinta-feira.

O investigador acrescenta mesmo que é redutor “olhar apenas para os custos económicos” de uma greve.

Como investigador, recuso-me a fazer cálculos sobre custos. Considero que as greves gerais têm muito mais benefícios do que custos”, afirma Luís Bento, referindo-se a um “efeito normalizador das relações sociais” que estas paralisações podem ter.

Em Portugal, historicamente, a greve geral tem sido muito pouco utilizada pelos sindicatos, e têm, a meu ver, um efeito muito benéfico sobre a sociedade”, acrescenta. “São uma espécie de normalizador das relações sociais, são iniciativas que constituem gritos de alerta e podem ajudar a pacificar, a fazer com que os governo tenham mais cautela”.

Em 2007, o gabinete de estudos do banco BPI fez um cálculo simples relativamente ao impacto da greve da função pública desse ano sobre a economia (o valor a que chegou foi 80 milhões de euros, isto presumindo uma adesão de 100 por cento).

A economista-chefe do BPI, Cristina Casalinho, frisa contudo que este valor não é fruto de um estudo, mas meramente de cálculos aritméticos. E acrescenta que, numa greve geral, as contas seriam mais difíceis de fazer.

Era preciso saber a taxa de adesão à greve, e quais os setores que vão aderir”, disse Casalinho à Lusa, notando que as greves gerais paralisam sobretudo a função pública e o setor empresarial do Estado.

Também há externalidades, como as pessoas que não conseguem chegar aos postos de trabalho por causa da paragem dos transportes, pelo menos 25 ou 30 por cento do setor privado pode ser afetado, quanto mais não seja por atrasos”, acrescenta Cristina Casalinho, notando ainda a possibilidade de alguns trabalhadores fazerem 'ponte' no dia seguinte à greve.

Quanto ao cálculo aritmético simples do impacto de um dia de greve, dividindo o PIB previsto para este ano (171,9 mil milhões euros, nas previsões da Comissão Europeia) pelos 225 dias úteis de 2011 (365 dias menos 53 sábados, 52 domingos, 9 feriados e 25 dias de férias), chegaríamos a um valor de 764 milhões de euros.

Mas estas contas por alto servem quanto muito como uma referência. A economia não funciona só aos dias úteis; nem todos os trabalhadores fazem greve; a produtividade dos dias não é toda igual; e em muitos setores o trabalho 'perdido' num dia de greve pode ser compensado nos dias seguintes.

Nas empresas de laboração contínua, em fábricas que produzem objetos físicos, basta acelerar um pouco o ritmo de produção, dois ou três segundos por hora, e em dois ou três dias recupera-se da paragem da greve”, afirma Luís Bento. “Do ponto de vista produtivo, não há desvantagem, e [as empresas] nem pagam os salários da greve.”

Esta é a terceira greve geral em que a CGTP e UGT se juntam, mas apenas a segunda greve conjunta das duas centrais sindicais portuguesas já que em 1988 a CGTP decidiu avançar e a UGT, autonomamente, também marcou uma greve geral para o mesmo dia. A greve do próximo dia 24 foi marcada após o Governo ter anunciado novas medidas de austeridade, nomeadamente a suspensão dos subsídios de férias e de Natal na função pública, assim como o aumento do tempo de trabalho no setor privado.

PGR.

Fonte: Lusa

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Escritor


Li no romance "O Fio da Navalha", de Somerset Maugham, uma "máxima" que faz todo o sentido: "O escritor fornece ao leitor meia dúzia de traços gerais e deixa-o preencher pormenores por sua conta."

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Vaidade: O Pecado Irresistível

Há algum tempo, li o livro "O Fio da Navalha", de Somerset Maugham. E houve uma passagem que me marcou. Este escritor tem o condão de retratar muito bem a natureza humana. Nós não somos fundamentalmente bons. Na realidade, temos o condão de usar tudo para fazer o mal.



Diz uma personagem para outra:

"Lembra-se de como Jesus foi conduzido até ao deserto e jejuou durante 40 dias? Quando ele estava faminto, o Diabo apareceu-lhe e disse: Se és o filho de Deus, ordena a estas pedras que se transformem em pão. Mas Jesus resistiu à tentação. O Diabo levou-o então, para o alto de um pináculo do templo e disse-lhe: Se és o filho de Deus, atira-te daí abaixo. Porque os anjos velavam por ele e não o deixariam cair. E Jesus resistiu mais uma vez. O Diabo levou-o depois para o cimo de uma montanha, mostrou-lhe os reinos do mundo e disse-lhe que lhos daria se ele se prostrasse a seus pés e o adorasse. Mas Jesus disse: Vai-te Satanás! E assim termina a história segundo o bom e ingénuo Mateus. Só que não foi assim que terminou. O Diabo era matreiro e, aparecendo de novo a Jesus, disse-lhe: Se aceitares a vergonha e a desonra, o escárnio, uma coroa de espinhos e a morte na cruz, salvarás a raça humana, pois amor maior que esse, homam nenhum conhece, um homem que sacrifica a sua vida pelos seus amigos. E Jesus caiu na esparrela. E o Diabo riu a bom rir até lhe doer a barriga, pois sabia o mal que os homens fariam em nome do seu redentor."