Gabriel
García Marquez, de 87 anos, distinguido com o Prémio Nobel da
Literatura em 1982, que morreu hoje na Cidade do México, não
publicava desde 2010, quando foi dado à estampa "Yo no vengo a
decir un discurso" ("Eu não venho dizer um discurso").
O
autor de “Cem anos de solidão”, que os amigos tratavam por
“Gabo”, tinha anunciado em 2009 que se retirava, e o livro
publicado no ano seguinte, reuniu apenas material disperso das suas
alocuções em público, as quais iniciava invariavelmente com a
frase “Eu não venho dizer [fazer] um discurso”, informou na
altura a editora Mondadori.
Em
2012, o seu irmão Jaime García Marquez dava conta de que lhe tinha
sido diagnosticada uma demência, que perdera a memória e que o
autor de "Cem anos de solidão" não voltaria a escrever.
“Memória
das minhas putas tristes”, editado em 2004, é assim o último
livro de ficção de um autor de causas, que nunca escondeu
simpatias, nomeadamente pelo regime cubano de Fidel Castro. O romance
sucedeu a “Do Amor e outros demónios”, publicado dez anos antes.
"Gabo",
no verão de 1975, visitou Lisboa, para ver de perto a revolução
que se desenrolava, e sobre a qual escreveu três reportagens para a
revista "Alternativa", por si fundada.
A
um amigo, o jornalista Juan Gossaín, escreveu um postal com o Tejo
em que dizia: “Lisboa é a maior aldeia do mundo. Quando chegar,
conto-te desta revolução”, recordou ao Diário de Notícias, o
destinatário.
A
sua bibliografia é de pouco mais de 30 títulos, entre romances,
novelas, crónicas, material jornalístico e uma autobiografia,
"Vivir para contarla" ("Viver para contar"), de
2002, tendo sido também argumentista com o seu amigo, o escritor
mexicano Carlos Fuentes.
“O
amor em tempos de cólera”, “Notícia de um sequestro”, “O
outono do patriarca”, “Ninguém escreve ao coronel” são alguns
dos seus títulos na área de ficção, tendo García Marquez sido
distinguido com vários prémios, entre os quais o Romulo Gallegos,
Neustadt de Literatura e o Nobel.
O
discurso que leu em Estocolmo quando recebeu o Nobel de Literatura,
em 1982, "A solidão da América Latina", tornou-se um
texto de referência da sua obra literária.
O
escritor era apontado como um dos expoentes da denominada corrente
literária “Realismo Mágico", de que o seu livro “Cem anos
de Solidão” é paradigma.
Em
2010, quando editou “Yo no vengo a decir un discurso", em
comunicado afirmou: "Lendo estes discursos, redescubro como
mudei e fui evoluindo como escritor".
Natural
de Aracataca, na Colômbia, onde nasceu no dia 06 de março de 1927,
ficou a viver nesta cidade com os avós, quando os pais se mudaram
para Barranquilla.
O
avô era o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía, um veterano da
Guerra dos Mil Dias, e a sua avó, Tranquilina Iguarán. Segundo
especialistas da Literatura, estes exerceram forte influência nas
histórias do autor, destacando-se as personagens de "Cem anos
de Solidão".
Em
1947, García Márquez mudou-se para Bogotá para estudar Direito e
Ciências Políticas, curso que abandonou, mudando-se para Cartagena
de las Indias e empregando-se como jornalista no colombiano El
Universal.
Fez
parte ainda, entre outras, das redações do El Heraldo e do El
Espectador.
"La
Hojarasca" foi o seu primeiro romance, publicado em 1955, já
depois de casado, e de ter vivido nos Estados Unidos, onde foi
espiado pela CIA, dadas as suas simpatia pelo regime de Havana.
Em
1961 publicou o segundo romance, "Ninguém escreve ao coronel",
editado originalmente em português pelas Publicações
Europa-América, a primeira editora do escritor em Portugal, antes da
Publicações D. Quixote.
A
Asa ("Relato de um náufrago") e a antiga editora livreira
do semanário O Jornal, com as primeiras traduções de "A
aventura de Miguel Litín, clandestino no Chile" e "Crónica
de uma morte anunciada", foram outras chancelas de García
Márquez em Portugal.
Desde
os inícios da década de 1960 que Gabriel García Márquez vivia no
México, onde, em 1994, criou, com um irmão, a Fundação do Novo
Jornalismo Iberoamericano.
Fonte:
Lusa